sábado, 6 de julho de 2013

Caminhos cruzados, por Romildo Bolzan Júnior

Fonte: MCS - www.pdtrs.org.br | 5 de julho de 2013

Como dirigente partidário, estou surpreso com a intensidade das manifestações dos últimos dias nas principais capitais e cidades brasileiras. Limitado pelas agendas da dinâmica do partido, confesso que estranhei a dimensão dos espaços que os protestos vem ocupando em nosso país.
É bem verdade que os primeiros sinais, emitidos aqui em nossa capital – a mesma que há 52 anos Brizola mobilizou pela Legalidade – germinaram de forma avassaladora através de novos mecanismos de divulgação, as redes sociais, ferramentas que pertencem especialmente ao domínio dos jovens, os titulares absolutos dos protestos.
Assistimos, então, em Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Goiânia, entre tantas outras cidades, as mesmas cenas que vimos pela televisão na Espanha, França, Grécia, Egito e, simultaneamente, Turquia. Vimos com preocupação o estopim da crise européia através da manifestação dos jovens e saudamos com entusiasmo a denominada Primavera Árabe, a exuberante e inacreditável explosão de protestos em países dominados pelo totalitarismo.
O meu erro, como homem de partido, acostumado com as longas discussões políticas, as articulações e ponderações das mais variadas conjunturas, foi ter desprezado os sinais evidentes de que aqui – como em todo o mundo – também estava se materializando a insatisfação popular. Assumo como erro porque entendo que cabe ao partido político demandar as questões sociais através dos espaços públicos.
Os R$ 0,20 que mobilizam multidões estão materializados na péssima qualidade do serviço de transporte público em nosso país, que submete os trabalhadores ao confinamento em ônibus durante várias horas nos deslocamentos de casa para o trabalho. Agora capacitada financeiramente, a classe trabalhadora não tem mobilidade para mudar seu trajeto. Essa condenação histórica nunca entrou nas agendas dos governantes, que direcionaram sua preocupação para a modernidade urbana, acreditando que através das obras da Copa estariam dando passos gigantescos na direção do desenvolvimento. Os milhões investidos nos estádios estão com a fatura exposta nas ruas do país. O povo quer saúde, educação, transporte de qualidade, mobilidade urbana, respostas dos governos, eficiência, valores éticos e morais. O que explodiu foi o represamento das indignações.
Enquanto os jovens ocupam as ruas protestando pelos equívocos no direcionamento dos recursos públicos, os partidos políticos caminham para as agendas previsíveis dos calendários institucionais da nossa democracia representativa. É compreensível que eles recusem a partidarização, afinal, falhamos quando não ouvimos seus sinais. Mas vê-los altivos, autônomos e livres nas negociações e nos protestos me causa estranheza. O recado é claro, estamos em caminhos diferentes e não falamos a mesma linguagem. Será que envelhecemos com nossos partidos?
Romildo Bolzan Júnior, presidente estadual do PDT

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.